E(femme)ra
Corro pela aurora, sentindo o vento fresco na cara e as poucas horas de sono no corpo. O caminho estende-se a perder de vista, ladeando o rio e levando-me para longe. Para trás ficam os problemas, as preocupações, as amarras, as tristezas. Nestes instantes, em que apenas os primeiros raios de sol me conseguem atingir, sou livre.
Os quilómetros passam, voam, na correcta proporção dos pensamentos que fogem do meu controlo e galgam montanhas e atravessam vales para se deterem na tua pele. Respiro fundo a cada passada e imagino-te o cheiro. Apresso-me, sem te conseguir alcançar. O coração bate e a pulsação sobe, entre o suor que me abandona à sorte da tua imagem e a perspectiva da tua presença. Coisa efémera, a liberdade... Pois que - de pensamentos aprisionados em ti - corro de volta para o cárcere, imaginando que são os teus braços que me esperam e o teu regaço que me recebe, numa fresca manhã de Primavera.
"Ciprestes e estrelas", Van Gogh