Palavras que Brotam

27 fevereiro, 2007

Vem


Vem.
Vem, que te faço feliz.
Vem, que quero perder o Norte na rosa de vento que despenteia o teu cabelo.
Vem, que me sinto desnorteado pelo magnetismo das tuas coxas, que me chamam e me puxam para o fundo de ti, quais sereias homéricas de intemporais mitos.
Vem, que juntos viveremos incontáveis epopeias e escreveremos a nossa própria história, a vermelho fogo.
Vem, que adormecerei navegando nas ondas dos teus cabelos e acordarei contigo trepando à conquista do meu peito.
Vem, que me consumo se não te devoro e me queimo se não me entrego ás tuas mãos e não me lanço - como pasto - à chama da nossa paixão.
Vem, que fico amargo sem o mel dos teus seios e me engasgo sem o teu sopro no meu pescoço.
Vem, que te quero encontrar para me perder em ti.
Vem, que te faço feliz.
Vem.
Vénus de Milo

21 fevereiro, 2007

Ashes to Ashes


A fuligem caía da lareira, misturando-se com os dois corpos entrelaçados, no chão.
Tinham resolvido fazer o velório das suas lágrimas e diluiam-nas, misturando-as entre si.
Carpiam o sangue derramado em feridas de peito aberto, sorvendo-o por entre saliva e suor. As gazes do contentamento eram fervidas no corpo um do outro e o casal aplicava-se numa verdadeira terapia de choque, consumindo a energia mútua em grande labareda, qual dança exótica de curandeiros seculares. Na manta feita mortalha, se entregavam...sem sacrifício algum.
Enterrar o passado e as mágoas bem fundo - qual entrudo sinistro - era o que se propunham fazer e - ao menos naquela noite - não descansariam até que a missão estivesse concluída e eles, exaustos, se deixassem dormir, abraçados...fingindo perpetuar a chama da paixão fulgurante com a da lareira que, próxima e crepitante, lhes haveria de aquecer os corpos molhados pela lascívia e a alma, arrefecida pelo vazio.
Com efeito, a quarta-feira, era - efectivamente - de cinzas...
Foto: Mark Lane

13 fevereiro, 2007

Na companhia de Eddie


Eddie Vedder, companheiro de tantas tristezas e alegrias, cantava uma melodia à medida da melancolia que lhe ia pela alma. Tinha viajado no tempo e o título do álbum que segurava nas mãos era elucidativo. Sentia-se como se estivesse a olhar através de um grande espelho retrovisor. Via a adolescência irreflectida e os dias e os anos - uns mais distantes que outros - batiam-lhe na vista como flashes ou reflexos de raios de sol que o encadeavam. Divagou por "Animal", exorcizando a raiva interior que tantas vezes já sentira; "Jeremy" e "Given to Fly" acalmaram-no um pouco, preparando-o para "Nothing as it seems" e "Dissident", acordes mais de acordo com o seu estado de espírito. Decididamente, não era a noite indicada para ouvir "Alive", pelo que se deixou levar pela solidão magnética de "Nothingman". Se dúvidas houvesse acerca de que existe uma canção para cada estado de espírito, ali se desvaneceriam, esbarrando na letras e nos acordes que o embalaram noite fora...

Once divided...nothing left to subtract...
Some words when spoken...cant be taken back...
Walks on his own...with thoughts he cant help thinking...
Futures above...but in the past hes slow and sinking...
Caught a bolt a lightnin...cursed the day he let it go...

Nothingman... (2x)
Isnt it something? Nothingman...

She once believed...in every story he had to tell...
One day she stiffened...took the other side...
Empty stares...from each corner of a shared prison cell...
One just escapes...ones left inside the well...
And he who forgets...will be destined to remember...oh...oh...oh...

Nothingman... (2x)
Isnt it something? Nothingman...

Oh, she dont want him...
Oh, she wont feed him...after hes flown away...
Oh, into the sun...ah, into the sun...

Burn...burn...
Nothingman... (2x)
Isnt it something? Nothingman...

Nothingman... (2x)
Coulda been something...
Nothingman...
Oh...ohh...ohh...

A manhã seguinte saudou-o com um "Even Flow" ouvido a decibeis fora do comum, preparando-o para sons ainda mais pesados, mas aliviando-lhe o espírito.
Parte das energias negativas tinha sido dissipada pelo som...nada melhor do que fazer desvanecer agora o resto pelo suor, pensou. Aqui sofre-se quando se corre e quando não se corre, mas essas dores são as que menos doem. O primeiro sorriso expontâneo dos últimos dias invadiu-lhe as feições. Venham os Km!!

07 fevereiro, 2007

Areia Fina

Foto: Fotosearch.com
Soprava em si a brisa da solidão, assolando-o. As frias paredes silenciosas procuravam, em vão, arrefecer-lhe os ânimos e calar-lhe a alma que gritava, ensanguentada ante a desilusão.
O grau da sua tristeza pedia meças ao do vinho que o acompanhava, ganhando-lhe por larga margem. Segurava a garrafa delicadamente, servindo o pequeno cálice pousado no chão para depois o erguer à consideração visual e olfactiva, antes de o despejar garganta abaixo em pequenos goles que se foram agigantando com o passar do tempo.
O cálice foi, a pouco e pouco, dispensado do seu serviço e a garrafa tornou-se, então, a sua única companhia naquela noite fria e solitária. Sabia que esta parceria "vinícola", à imagem de outras, não poderia durar por muito tempo, mas o ligeiro entorpecer de corpo e mente sabia-lhe bem naquela noite que tinha decidido dedicar à meditação. Só naquela noite. Só por aquela noite, onde - à imagem do chão a quem o vinho tinha dado vida - tudo lhe parecia fugir debaixo dos pés e por entre os dedos das mãos. Mundo feio, este sobre o qual se debruçava!
O dia seguinte haveria de ser melhor, pensou, imediatamente antes de ser subjugado pelo sono. A vida continua.

06 fevereiro, 2007

Eu vou


21.097 metros de prazer, boa disposição, sofrimento, dor. Numa distância tão grande, há espaço para todas estas sensações. Para estas e muitas mais. 2 anos depois, eis-me de volta à competição por um lugar no Olimpo. OK, estou a exagerar...a ideia é terminar e, se possível, abaixo das 2 horas. A forma física está uma lástima e o tempo para treinar não abunda...mas estamos lá. É promessa garantida de uma manhã bem passada e de um olhar diferente sobre a cidade.
A inscrição está feita. Os quenianos que se cuidem! ;)

05 fevereiro, 2007

Está lá tudo!


Hipocrisia. Cinismo. Desonestidade.
Hoje é um dia muito triste. Nem as palavras brotam. Apenas um misto de revolta, desilusão e profunda...tristeza.
A natureza humana não pára de me surpreender...pela negativa.
Quanto mais me apercebo dela, mais me apetece conhecer mais a fundo a obra de Shakespeare. Está lá tudo! Há que aprender...
A felicidade e boa disposição seguem dentro de momentos.
"Lying Cow", Van Gogh