Palavras que Brotam

04 maio, 2009

Get ready, "Set", Go!!


A impaciência com que aguarda o "set" faz lembrar situações em que o pescoço se vira e se estica ao limite para vislumbrar o interlocutor humano de um qualquer encontro marcado. Onda após onda, os passos aprendidos são treinados e repetidos em vagas sucessivas de sensações novas e verdadeiramente refrescantes...ou não estivesse a água a uns escaldantes 15º C.

Um...dois...três:surf! Eis a sequência-chave de um bailado que se quer harmonioso mas que exige vigor musculado, essencial à conquista da mais básica das sensações para os mais experimentados, mas que constitui o autêntico Santo Graal de qualquer aspirante: a conquista de uma posição bípede num pequeno pedaço de fibra. De uma ironia extrema é a sensação de como - de repente - regredimos até à nossa infância ou mesmo ao início da Humanidade e deixamos de ter como garantida uma posição tão natural como é a de estar de pé.

Instável, temperamental, difícil e - não obstante - fonte inesgotável de prazer...a palavra "prancha" só podia mesmo ser do género feminino.

Num instante, pleno de força, aproxima-se o "set", agigantando-se e trazendo consigo as esperadas ondas. Alguém grita, em tom de brincadeira: "Tsunamiiiiii!!!!" A respiração acelera, o corpo salta para a prancha e os braços começam a puxar a água para trás, alternadamente...a lânguida remada torna-se vigorosa, talvez para - respeitosamente - apanhar a boleia da massa de água que cavalga na nossa direcção ou quiçá, apenas para tentar escapar dali o mais rápido possível, dirão alguns espectadores maldizentes.
Marcada hora e o local do encontro, o desfecho é cozinhado em lume vivo: a uma vaga de dimensões consideráveis (pelo menos para o incauto aprendiz), junta-se uma vontade de ir um pouco mais além (tentando apanhar a onda na sua zona de máxima força) e polvilha-se com uma dose de chico-espertismo ("deixa cá ver se consigo" ou algo do género "Kelly Slater, eat this!"). A mistura não tarda a transbordar e deitar por fora, não sem antes - lá do alto - se balbucie entredentes uma expressão lapidar (o sempre oportuno e multinacional "Oh, ssshit!!" ou o mais português, carinhoso e maternal "Mãezinha...!") antes de nos precipitarmos (bem lá de cima) para uma rápida visita pelo fundo do mar, qual pedaço de roupa dentro da máquina de lavar. Um...dois, três. Conta-se agora novamente, mas desta feita, são os segundos que passam, vagarosos, na escura incursão pelo universo subaquático. Refeito da inesperada (seria?) viagem, é tempo de voltar a tentar. Uma e outra e outra vez.
Aprendida a dura lição e retiradas as devidas ilações, retorna a labuta dos passos e da correcta postura que permite os breves os instantes de liberdade tão arduamente conquistada, e - talvez por isso mesmo - tão saborosa. Entre o 25 Abril e o 1ºMaio, aprendeu-se uma nova forma de a disfrutar.

No local de onde partiram as Caravelas, rumo ao desconhecido, descobriram-se sensações, formas de estar na vida, amizades e ganas de repetir a experiência. Surf's up!!






Foto: Praia da Cordoama, Sagres