Palavras que Brotam

10 dezembro, 2008

Pé ante Pé

À medida dos pensamentos que nos transportam, assim a aeronave transportava os "divers", desafiando a gravidade a mais de 12.900 pés.
Menos de 20 minutos depois e com excepção de um ou outro espírito menos convicto do passo a dar, as hostes animam-se no instante em que o tecto é alcançado. 12.950 pés. A um passo dos 4 km de altitude, a porta é aberta e o vento fresco saúda-nos.
Esgueiramo-nos para fora do aparelho e aguardamos o encontro com o vazio que nos preencha as medidas. Num instante, o calafrio na espinha; a vertigem da aceleração - tantas vezes experimentada mas nunca saboreada desta forma - invade-nos.
Os gritos, polvilhados de adrenalina e regados de um prazer indescritível, ecoam em surdina nos recantos da atmosfera. O sorriso, esse, é largo da satisfação e ampliado pela deslocação de ar. Ou seria o contrário?
A mais de 250 km/h, a mãe terra espera-nos lá em baixo, de braços abertos para nos receber. Lembramo-nos do pára-quedas e rezamos para que não abra...já! Nada feito. Os 60 segundos de pura alegria são interrompidos por um leve puxão que nos faz acordar e que nos liga - literalmente - à vida. O tempo presenteia-nos com uma magnífica paisagem de dezenas de quilómetros em redor e é agora...tempo de o saborear por uns minutos, antes do suave beijo de reeencontro com o solo. 
Sentimo-nos vivos, é certo...mas menos que uns minutos antes. Libertam-nos do arnês e demais equipamento, mas sentimo-nos aprisionados. A verdadeira liberdade, essa, ficou lá em cima: pairando num sorriso largo, puro. Pé ante pé. 

Sky Diving. Évora, 22-11-2008