Areia Fina

Soprava em si a brisa da solidão, assolando-o. As frias paredes silenciosas procuravam, em vão, arrefecer-lhe os ânimos e calar-lhe a alma que gritava, ensanguentada ante a desilusão.
O grau da sua tristeza pedia meças ao do vinho que o acompanhava, ganhando-lhe por larga margem. Segurava a garrafa delicadamente, servindo o pequeno cálice pousado no chão para depois o erguer à consideração visual e olfactiva, antes de o despejar garganta abaixo em pequenos goles que se foram agigantando com o passar do tempo.
O cálice foi, a pouco e pouco, dispensado do seu serviço e a garrafa tornou-se, então, a sua única companhia naquela noite fria e solitária. Sabia que esta parceria "vinícola", à imagem de outras, não poderia durar por muito tempo, mas o ligeiro entorpecer de corpo e mente sabia-lhe bem naquela noite que tinha decidido dedicar à meditação. Só naquela noite. Só por aquela noite, onde - à imagem do chão a quem o vinho tinha dado vida - tudo lhe parecia fugir debaixo dos pés e por entre os dedos das mãos. Mundo feio, este sobre o qual se debruçava!
O dia seguinte haveria de ser melhor, pensou, imediatamente antes de ser subjugado pelo sono. A vida continua.
9 Comments:
Não consegues imaginar como conseguiria fazer dessas palavras as minhas! ;)
Beijos
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Lu, at 8/2/07 09:34
luciana,
Nesse caso, espero que as nuvens desapareçam e que o sol volte a brilhar o mais breve possível.
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João, at 8/2/07 17:33
Obrigado João, estou a fazer o melhor que posso e que sei por mante-las afastadas mas teimam em voltar sempre! :(
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Lu, at 9/2/07 09:38
...a realidade tem destas "temperaturas"...indelicadas e cruas agruras da alma que procuram refúgios temporários em coisas assim à mão...mas a vida continua e tem altos e baixos e assim sucessivamente.
Tristes mas belas palavras.
E "vestem" sempre bem...os estados de alma...vestem-me a mim agora tb...
Beijos em fio aqui da Teia.
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Anónimo, at 9/2/07 22:57
luciana,
Que os ventos soprem as nuvens negras para longe de nós :)
Bjs
Su,
Há quanto tempo! K boa visita! :)
Obrigado pelas tuas palavras.
Esperemos que as agruras passem...
beijos
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João, at 10/2/07 13:34
Quando temos o que queremos, achamos que afinal não é bem aquilo, quando estamos sós achamos que deixamos perder o que de mais importante a nossa vida tinha.
Será o medo de viver, será o receio de poder ser tão feliz que depois a dor é insuportável.
Nunca sabemos o que queremos, se chega.
Vamos tentar ser apenas nós.
Se um dia descobrires o segredo da vida, diz-me, porque tenho sede de simplesmente viver.
Um beijo
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Anónimo, at 11/2/07 14:37
anónima,
Talvez tenhas razão.
Talvez o medo da dor ás vezes se sobreponha a tudo o resto.
Vamos tentar!
Um beijo
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João, at 11/2/07 15:29
Hoje tive uma conversa com um amigo muito especial, que adoro, mas a conversa subitamente mudou… o chão fugiu-me dos pés… fiquei triste. Mas não consegui argumentar… e a conversa morreu. Amanhã o dia terá de ser melhor.
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Sun, at 12/2/07 18:27
sun,
Não fiques. Se a conversa mudou, por alguma razão deve ter sido, digo eu.
Amanhã será melhor, concerteza.
BJs
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João, at 13/2/07 14:42
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