Palavras que Brotam

29 janeiro, 2007

IR(ao encontro do)REAL

As palavras voam da minha boca sem pedir licença. Pior: saem, apesar de eu as proibir de o fazer. Abandonam-me...à minha sorte e ao destino de te imaginar e eu...eu cá fico, sem palavras.
Penso no teu cheiro viciante e na forma como te arrancaria sorrisos, mesmo antes de acordares completamente; imagino esse olhar que me desarmasse, nas tuas mãos a despir-me e na tua boca a pedir-me - em ânsias - que te fizesse feliz novamente feliz.
Acabo sempre por falar em ti. Muitas vezes nem refiro o teu nome. Imagino-o, mas omito-o, na tentativa vã de fingir que não és tu. Não me consigo enganar, mas procuro asfixiar as palavras. Sem sucesso, mais uma vez. Elas brotam e fazem-me divagar em ti...como se te estivesse a arrancar sorrisos e me pedisses para te fazer feliz, novamente.
"O sonho", Pablo Picasso

27 janeiro, 2007

Sábado, 11:40


"Vazio" - adj. que não contém coisa alguma; fig. fútil; s.m. vácuo
in Dicionário Português, Porto Editora

Mesmo sem ilustrações no dicionário, eu diria que a definição está lá perto...
Bolas! Faltei à lição nº 3: "O frigorífico não se enche sozinho".
Vou escrever 100 vezes no quadro. Quanto ao castigo, acho que ainda vou pensar mais um pouco sobre o assunto...trocando algumas breves impressões com a Carlsberg que sobrou. :)

16 janeiro, 2007

Portas para outros Tempos

Existe sempre a tentação de nos deixarmos levar para os chamados "lugares comuns". Podia aqui ser dito que sem Jim Morrison não é a mesma coisa, que apenas dois dos quatro elementos originais da banda ainda fazem parte da Tour ou mesmo que os personagens em causa já estão muito velhinhos. Não descartando a possibilidade de parte ou mesmo todas estas afirmações poderem estar correctas, o certo é que parece sempre mais fácil e imediato dizer mal.
A curiosidade em ouvir - ao vivo - temas que acompanharam o nosso crescimento (alguns com história) e que ainda fazem parte das sonoridades regularmente escutadas, era enorme. Aliás, quem primeiro deu a conhecer o som dos Doors - ainda em vinyl - cedo ensinou que "a boa música é intemporal"! ;)
Se a entrada em cena ao som de Carmina Burana procurou electrizar o heterógeneo público que afluiu ao Coliseu, enchendo-o, o certo é que a voz de Ian Astbury pareceu perdida no meio dos acordes de RoadHouse Blues, fazendo temer o pior. Afinações de garganta e de mesa de mistura efectuadas, eis que os receios se dissiparam e foi tempo de disfrutar - por entre nevoeiro próprio destes ambientes e sonoridades - do espectáculo. E que espectáculo! É que, apesar do rude golpe de não ter sido tocado The End, afinal sempre terá de haver cedência ao pecadilho dos lugares comuns para dizer que "quem sabe, não esquece" e "velhos, são os trapos". Introduzindo pequenos arranjos musicais para vestir os temas idolatrados com novas roupagens, com Krieger em grande forma, Manzarek a fazer de speaker e Astbury numa interpretação sóbria, sem excessiva colagem aos timbres e tiques de palco de Morrisson, o público foi brindado com 2 horas de um Grande Som!
A noite prosseguiu, animada, pelos bares do Bairro Alto...untill the end. :)
http://www.raymanzarek.us/index.html

11 janeiro, 2007

Atracção Subterrânea


O colorido do cachecol ficava-lhe a matar, combinando com as cores das linhas do mapa, dispostas em espinha para auxiliar os viajantes menos familiarizados com o traçado e com as estações...Lá em cima era Inverno, cá em baixo estavam em Entrecampos.
Os olhares cruzavam-se, no meio da multidão silenciosa, gritando por algo que os fizesse chegar à fala, para depois se desviarem, procurando outros pontos de observação meramente fictícios. Os corpos pareciam ganhar vida própria e a sua linguagem denunciava-os. Ela enrolava o cabelo de forma atabalhoada e nervosa; ele mexia no lóbulo da orelha, procurando disfarçar o indisfarçável encantamento.
O vício de se olharem nos olhos consumia-os, enquanto procuravam vislumbrar alianças nos dedos um do outro, rezando para não as descobrirem. As luvas dela sabotavam as tentativas sherlockianas para captar um brilho metálico nos seus dedos. "Rai's parta o frio!", pensou ele enquanto fingia consultar - uma vez mais - o mapa da rede do Metro.
A resposta veio duas estações depois, quando ela precipitou a saída para ir ao encontro de alguém que a esperava. Lá estava o senhor do anel, aguardando...
O beijo que ela lhe deu pareceu-lhe algo seco, mas também...a sua opinião poderia ser algo suspeita, admitiu.
Seria a efemeridade de umas quantas estações de Metro, apelo irresistível à atracção mútua? Quantas vezes e quantas pessoas já se sentiram atraídas no decorrer de uma viagem?
A carruagem seguiu. As vidas dos três, também.

04 janeiro, 2007

Crepúsculo

Casa vazia. Impregnada de silêncios e sombras. Inertes. Os passos são propositadamente lentos, lânguidos, quase em surdina. A visita queria-se curta, mas acaba por reinar a introspecção, no olhar ausente que mira as paredes brancas.
Buscando caminhos a seguir, no infinito do nada, a mente atraiçoava-o, fazendo-o vislumbrar um sol de cores quentes e garridas. Nascimento ou ocaso? Fim de um ciclo? Princípio de outro? O pensamento pendia para um e outro lado de forma intermitente. Talvez o melhor fosse mesmo recomeçar do zero. A solidão daquelas paredes pareceu-lhe apropriada, assim como o branco imaculado da sua côr. Que lhe lave e lhe leve as mágoas.
O sol há-de voltar a brilhar, aquecendo o seu coração.
"Ninguém é tão velho que não espere que depois de um dia não venha outro"
SÉNECA
Foto: SOL @ Ponta do Sol, Madeira