Palavras que Brotam

30 maio, 2006

SB-SR

A tertúlia evoluía, ao som dos acordes metálicos e ao ritmo do "headbanging". Reunidos para disfrutar dos pesados timbres, os amigos riam e partilhavam emoções, por entre sabores e sensações próprios do contexto, convenientemente suavizados por um retemperador pão com chouriço.
O astro mudava, em tons neons que tinham muito de belo e qualquer coisa de alucinógeneo, preparando-se, também ele, para o climax musical da noite, aguardado por todos.
Música após música, banda após banda, ao segundo dia, o cansaço ia cobrando o seu preço, instalando-se no corpo de cada um, até que um ou dois acordes electrizaram o grupo da tertúlia, à semelhança do impacto produzido na multidão. A massa humana movia-se agora para a frente e para trás, alternando, compassadamente, uma lânguidez aparente com golpes mais acertivos, sob o comando dos pratos de choque ou de uma nota do baixo. Os músicos, quais flautistas de Hamelin, conduziram o público a quase 2 horas de êxtase e no final, para além de terem conquistado (pelo menos) mais um fã, a opinião de que os "Tool" tinham mesmo sido "the best for last" era unânime. Assim foi.


24 maio, 2006

Mãos

Gostava de repousar as minhas mãos em ti, enquanto o Mundo se cansa, lá fora.
Queria que me encantasses com as tuas palavras e que me saciasses com a tua boca, mesmo que houvesse fome, lá fora.
Era bom poder fazer-te voar comigo, para longe, sem sairmos daqui, onde outros não alcançam nem vislumbram.
E depois tapar-te de noite, para que não te constipasses.
Só falta descobrires-me. E eu descobrir-te a ti. E dar-mos as mãos.
-----------------------------------------------------------------------
"A mão na mão, pode ser, e é tantas vezes, a suprema carícia"
Fernando Namora

21 maio, 2006

Eterno abraço

Percorria a estrada das suas costas desnudadas, com a ponta dos dedos. A sua mão, veículo transmissor de sensações, fazia-a arrepiar, num misto de nervosismo e prazer, enquanto lentamente se voltava, para o encarar de olhos semi-cerrados. Passou a mão pelo seu peito e - vendo que retribuía o arrepio antes provocado - sorriu encantadoramente. O tal "killer smile" que o tinha feito a ele perder-se naquele rosto exótico, sensual e bondoso e perder o autocarro, só para se continuar a sacrificar mais um pouco naquele altar de olhos escuros, que agora o trespassavam, numa imagem estonteante que a luz proveniente das frestas dos estores iluminava. Passou-lhe a mão pelo rosto. Suavemente. Queria mimá-la e certificar-se de que estava mesmo ali. Para si. Uniram-se então num abraço intenso e apaixonado. Forte e meigo. Quente e saudável. Não mais se largaram, mesmo quando adormeceram, exaustos. E viveram felizes, não sabiam se para sempre, mas pelo menos e indubitavelmente, até a manhã seguinte.

17 maio, 2006

Hey, blondie! You know what you are??



A poeira pairava em seu redor, como que animada. Olhou para cima e o clarão levou-o a semi-cerrar os olhos, fazendo uma careta involuntária. Mirava agora as barras (seriam grades?) que tinha diante de si e hesitava em utilizar a pistola. Talvez não fosse aquele o seu destino. Talvez não devesse sequer ali estar. Sentia-se a terminação de um longo braço que o impelia a premir o gatilho. Estava looonge... uma música épica invadiu-lhe o espírito, parecendo até ocupar-lhe os ouvidos. Uma voz soou, provocando-lhe o espasmo do susto a que chamamos "salto".
- Ó pááá! Vamos mas é a despachar o servicinho!!
Um reflexo fê-lo premir o gatilho, mas o som balístico e o sangue de quem o tinha assustado deram lugar a um monótono - quase lúgubre - "Bip!"
- Anda lá mas é com isso, que o PDT não trabalha sozinho no código de barras e eu estou farto de estar neste armazém a comer pó, #$#%(vernáculo oportunamente omitido pelo autor)!!
"Ai, que saudades dos filmes de cóbóis! Dava-me um jeitaço que isto agora fosse mesmo um Colt", pensou, no momento anterior a expelir o ar dos seus pulmões com desmesurada força.
A noite prosseguiu, ao som dos Bips, como se de um duelo se tratasse, entre a máquina e os nervos de cada um.

11 maio, 2006

Terminal

Terminal de autocarros, terminal do aeroporto, terminal de táxis. Terminal.
Terá a quantidade de vezes que as relações terminam nestes locais, alguma coisa a ver com a escolha do nome? Terminal. Doente Terminal. Fase terminal. Nome Infeliz!
Dos filmes á vida real, vai um passo. O abraço emotivo e apertado, a lágrima não disfarçada, a expressão da tristeza plantada no rosto. O alívio da mentira, o "até à próxima" que ambos sabem que não haverá.
Este verdadeiro fim das coisas (e das viagens) não deixa de ser também o início de muitas outras (viagens incluídas).
Apenas o nome, soturno e sombrio, teima em assombrar o local de tantas peripécias da vida, umas más, outras boas.
E posto isto...vou terminar.

08 maio, 2006

Rolando sobre a insanatez

Sábado, 10:30, algures na Lezíria.
O sol mordia-lhe os braços, parecendo inofensivo a início, mas queimando a pele incauta.
Por entre silvas, flores e espinhos, pedalava, inalando o ar puro do campo e fechando a boca para não engolir nenhum "txaroco" :).
A seu lado,logo ali em baixo, o rio corria sossegado, mas avisando-o de que o faria pagar caro, caso tivesse um deslize.
O estreito carreiro serpenteava - oprimido entre o curso de água e uma vala - contrastando com as amplas sensações de liberdade, alegria pela vida e felicidade imensa que o percorriam. O sorriso largo invadiu-lhe a cara, sem pedir licença, e à medida que o parco caminho se alargava agora um pouco, o vislumbre de uma cegonha a voar para junto do seu ninho no rio, contrastou com a visão do grande pássaro metálico que, acima dos dois, procurava migrar para outras paragens. Uns chegam, outros partem.
"Viste?", gritou para o seu companheiro de aventura. "Vi, pá! Espectáculo! E ainda me perguntam como é que sou maluco ao ponto de não ficar a dormir a manhã toda para vir para aqui dar ao pedal!", respondeu-lhe.
As silvas deram, a pouco e pouco, lugar ás casas, as casas daqueles que não vêem a garça, não respiram o ar, não se sujam na lama nem se esfolam nas quedas na terra dura; aqueles que não sentem o sol e que lhes chamam malucos. A eles.
E os dois lá seguiram, passando pontes, atravessando estradas, levando o rio ao seu destino e prosseguindo caminho, felizes por não serem lúcidos o suficiente para estar a dormir.
Anda mesmo muita gente a dormir.

04 maio, 2006

Stats


Bem...uma semana depois do repto lançado, é pois, tempo de fazer um balanço dos resultados:
Votos de Boa Sorte: 1
Tentativas de aproveitamento para reptos alheios: 1 :)
Pedidos de Esclarecimento: 1
Candidaturas Recebidas: 0
Constatou-se ter havido uma fraca (inexistente) adesão por parte das visitantes. As razões subjacentes a tal fenómeno serão agora tema de aturado estudo, meticulosa análise e reflexão aprofundada por parte do autor, contando este, para esse efeito, com os imprescindíveis contributos de Mr. Stolichnaia, ilustre russo que prima pela transparência das suas análises, e do Dr. Ferreira, natural do Porto e sumidade em assuntos relacionados com a dicotomia Sonhos Dourados VS Pura e Dura realidade. De sublinhar ainda, o apoio de Mr. Bushmills - conhecido escocês - o qual nos colocou à disposição a sua ampla biblioteca em Malt(a), local onde se levará a cabo a primeira sessão de trabalhos, estando prevista a realização da segunda na localidade de Sagres.