
Caixotes que se amontoam no chão nú, ante paredes despidas.
Pertences pessoais. Testemunhos de um passado vivido. Dossiers com apontamentos, livros, roupas, fotos.
Fotos! As operações de trasfega de material cessam por instantes que parecem breves mas que se revelam prolongados, à medida que se vão desfiando recordações, soltando sorrisos ou pressentindo o quase aparecimento de uma lágrima, tal a variedade de emoções envolvidas e misturadas, no redescobrimento de alguns álbuns semi-perdidos nas gavetas do quarto e nos meandros da memória.
Viagens efectuadas. Amizades graníticas que o tempo não quebra. Infâncias passadas. Amores vividos. Paixões arrebatadoras. Desgostos de parte a parte. Excessos cometidos na juventude, que o aparecimento dos primeiros cabelos brancos não faz apagar.
Suspira-se de emoção, procurando soltar-se o pó e o nó que se acumularam na garganta.
Recordar (também) é viver.