Vaga(s)

Vagas.
Uma após outra, as vagas sucediam-se, castigando rochedos e cuspindo espuma, num spray atordoante.
Naquela circunstância (como noutras), aquelas vagas (como outras) pareciam desaparecer, preenchendo o espaço vazio por instantes, para depois se esvaírem no vazio, esgotando a energia e imulando-se a si próprias numa fúria destrutiva. "Para tudo há um paralelo na Natureza", pensou.
Sentado de pernas cruzadas ao alto, divagava - com vagar - sobre a magnífica paisagem marítima e emergia de quando em vez da sua meditação, para a contemplar.
A vaga de sensações que o fustigava era tão intensa como a ondulação que - mais abaixo - se encaminhava para si e tão heterogénea como as correntes que a espuma ajudava a delinear.
A vaga de calor anunciada não se concretizara e o vento vagueava por ali, chamando por chuva e impondo-lhe um olhar (ainda mais) austero, a cada rajada soprada.
De dentro do seu coração, uma outra vaga continuava por preencher...pois por maior o furacão de emoções vividas e por mais electrizante a tempestade de sensações experenciadas, nenhuma corrente se havia ainda formado, nenhuma onda se havia ainda erguido, nenhuma espuma se havia ainda vislumbrado naquele mar amortalhado de ideias...vagas.
Foto: Finnish Institute of Marine Search http://www.fimr.fi/en.html