Palavras que Brotam

17 agosto, 2007

Engenharias Marginais

Sentado na barcaça de transporte de materiais para o rio, o engenheiro bebia mais um trago da cerveja oferecida - instantes antes - pelo pessoal do estaleiro. Esperava e exasperava - em vão - pela resolução da avaria do satélite que lhe havia de transmitir as coordenadas correctas para a implantação dos pilares principais da ponte que procurava construir. Olhava a jusante, procurando um ponto de apoio, mas a neblina - que teimava em persistir - impedia-o de o fazer. De tal forma era, que por vezes tinha a sensação de que ele próprio é que não tinha capacidade de enxergar, cego que estava pela sua abnegação à causa de unir as duas margens. Afinal de contas, era tudo o que desejava. Castigado pela fria brisa que soprava rio acima, aconchegou a gola do blusão ao pescoço, assolado por questões que pareciam ultrapassá-lo, não obstante todo o seu empenho.
"As águas podem ser turvas; as correntes, perigosas; os ventos, fortes e gélidos; os solos, arenosos e movediços e a zona, sísmica. A todos os desafios se pode dar resposta; a todos se pode enfrentar com o sorriso intrépido da determinação vincado na face e a vontade férrea de estreitar laços...mas como construir pontes, quando uma das margens insiste em mover-se e afastar-se da outra? E - por mais flexivel que se procure construi-la - haverá estrutura que resista?"
Foto: Lusoponte
Ponte Vasco da Gama: Viaduto Central, Colocação da primeira viga

5 Comments:

  • João,

    O lema é não desistir. A estrutura é algo que se vai construindo, o importante e que os alicerces estejam bem firmes...

    Bjs e bom fim d semana

    By Anonymous Anónimo, at 17/8/07 19:10  

  • ...as margens não se movem...possivelmente foi o efeito da cerveja!!!...ou talvez tenha sido o olhar perdido com as variações do nivel das águas...

    By Anonymous Anónimo, at 21/8/07 10:59  

  • ana,
    Sim...os alicerces estão lá ;)
    Bjs

    K.
    Possivelmente. Se calhar, já não era a primeira nem foi a última (cerveja). Estas falhas de comunicação (do satélite), ás vezes dão nisto... :P Interessa é que a construção prossiga, ainda que o nível das águas oscile. Afinal de contas, à maré-vazia sucede a maré-cheia, mas a ponte é construída para resistir a tudo isso :)

    By Blogger João, at 21/8/07 12:59  

  • como construir pontes, quando uma das margens insiste em mover-se e afastar-se da outra?

    Brilhante...


    *

    By Blogger Eyes wide open, at 29/8/07 21:16  

  • eyes wide open,
    :) :)Obrigado!

    By Blogger João, at 30/8/07 10:45  

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