A luz da rua

Mirava aquele dorso despido que - antes agitado pelo rebuliço da paixão - serenava agora. Deitada de lado, de costas para si, ouvia-lhe a respiração pesada de quem dorme profundamente e sonha despreocupada. Hesitou em tapá-la. Olhava-a profusamente, sob a luz difusa que vinha da rua e lhe invadia o quarto, à medida do quadro vivo que lhe invadia os sentidos.
Por breves instantes, sentiu-se em paz num misto de instinto protector e de conquista...um pouco como se fosse o guardião do tesouro que ali repousava e que ele próprio havia tomado para si, repetidas vezes.
À passagem de um automóvel, virou-se sobre si. Os olhos - agora abertos - rapidamente se acostumaram à luz difusa que, entrando pelo quarto, lhe fazia companhia e lhe projectava sombras. Vultos. Desejos dos finos e delicados traços que antes julgou observar. Sob tons amarelados da luz que invadia o quarto, não havia tesouro; nem sequer arco-íris que o anunciasse. A tela estava, afinal, em branco. Vazia de conteúdo...mas pronta a ser pintada .
"Mulher Adormecida", Pablo Picasso
8 Comments:
E não me canso de te ler! É como se desejasse ser eu em cada palavra, em cada atitude! :) Muito bom! :)
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Lu, at 26/3/07 10:28
Crazy professor,
Thanks for your kind visit and mad comment.
Peace!
luciana,
Obrigado pela tua simpatia :)
Bjs
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João, at 26/3/07 11:43
Parabéns pelo primeiro aniversário das "palavras que brotam" de forma artística.
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Sun, at 27/3/07 20:50
sun,
Sempre atenta! :)
Obrigado ;)
Bjs
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João, at 28/3/07 11:30
A tela em branco tem o encanto de podermos nela fazer uma verdadeira obra-prima...
Sun, verdadeiramente atenta!!!
Parabéns João!!!
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Catarina, at 1/4/07 21:46
Catarina em lx,
Obrigado! :)
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João, at 2/4/07 12:17
Achei bonito o que estava escrito. Vou continuar a ler
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redonda, at 19/4/07 12:31
redonda,
Obrigado. À vontade, à vontade! :)
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João, at 19/4/07 13:53
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